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domingo, 3 de abril de 2011

As bombas do Nobel da Paz


Álvaro Domingos |

As bombas do Nobel da Paz


Description: http://imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/quote_start.gifO Presidente Obama surgiu na política acompanhado de holofotes intensos que ofuscaram todos os outros políticos americanos e deixaram a senhora Hillary Clinton numa espécie de limbo sombrio, donde só conseguiu sair pela mão de quem a trucidou nas eleições internas do Partido Democrático. Obama, de cometa da política, rapidamente passou a uma mania que contaminou o mundo e pôs de joelhos os circunspectos cavalheiros que ano após ano, nas terras frígidas do Norte da Europa, escolhem as pessoas excepcionais às quais é colocado o rótulo de Prémio Nobel.
A atribuição do prestigiado prémio a cientistas não tem levantado polémicas especiais. Mais ou menos todos reconhecem o mérito aos laureados.
O problema começa a ser sério quando se trata de escolher o melhor escritor. Habitualmente a decisão do Comité Nobel gera polémica, mesmo se teve a coragem de escolher um Dario Fo ou o poeta Pablo Neruda, comunista confesso e ao mesmo tempo bardo de um amor que se toca e respira.
Graves, mas mesmo muito graves, têm sido as escolhas das personalidades laureadas com o Prémio Nobel da Paz. Aqui o desvario atinge as raias do absurdo e dá cobertura a figuras que estão na fronteira entre o sadismo e o extermínio em massa da Humanidade. Como Obama está na moda – a luz dos holofotes começa a perder intensidade – os cavalheiros do Comité Nobel foram na onda e antes do Presidente dos EUA ter mostrado qualquer sinal de amor à paz, foi agraciado com o prémio.
Não se pode dizer que esta decisão tenha gerado polémica. Os fãs da estrela da Casa Branca exultaram, comendo pipocas e emborcando mais uns litros de Coca-Cola. Os que levam a política a sério mas detestam lavar roupa suja em público, recusaram fazer qualquer comentário à atribuição do Nobel da Paz a Barack Obama. Os que depositavam nele a esperança de acabar com a ditadura da indústria bélica americana apressaram-se a dizer que agora é que vai ser. Mas quem conhece a política americana e os seus actores, achou que os cavalheiros nórdicos perderam a cabeça ou quando tomaram a polémica decisão estavam em agradáveis libações alcoólicas.
O tempo, como sempre, encarrega-se de pôr tudo a nu. Hoje sabemos que a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Barack Obama foi um disparate irremediável. Não se pode dar semelhante passo, só porque alguém proclama piedosas intenções.
O Presidente dos EUA disse que ia retirar rapidamente as tropas invasoras do Iraque e do Afeganistão e elas ainda lá estão, de pedra e cal, matando, torturando, destruindo. Fizeram do país mais democrático e desenvolvido do Médio Oriente um montão de destroços e reduziram o povo iraquiano à condição de refugiados ou deslocados dentro do seu país, quando não a cadáveres.
Obama disse que ia encerrar o campo de concentração de Guantanamo e acabar com os tribunais militares onde as sentenças são lavradas à medida dos interesses dos que querem manter a guerra em todo o mundo, para que a facturação da indústria bélica americana continue em alta.
Os bombardeamentos à Líbia foram decididos por Barack Obama. Mesmo que os mísseis “cruzeiro” só matem camelos e façam crateras nas areias do deserto, temos de reconhecer que um Prémio Nobel da Paz não pode decidir a agressão à bomba contra seja que país for, mesmo que o Conselho de Segurança da ONU assine a cruzada contra os “infiéis islâmicos” e o assalto ao petróleo líbio.
O prémio é recheado com muito dinheiro e esse já ninguém o tira da conta bancária de um Nobel da Paz amante da guerra e dos bombardeamentos aéreos. A medalha que acompanha o cheque bancário ficou em mil pedaços quando caiu a primeira bomba sobre Tripoli. O prestígio do prémio jaz moribundo no fundo da cratera provocada por uma bomba de Obama despejada sobre a Líbia. Poucos tinha dúvidas mas agora toda gente sabe que as bombas da coligação ocidental, em vez de protegerem civis líbios estão a matá-los e servem apenas para levar a reboque os bandos apresentados como “rebeldes” e se esforçam por parecer sérios ante as câmaras das televisões ocidentais.
A estrela mundial da política continua a brilhar em grande plano, à medida em que a senhora Hilarry Clinton vai sendo o rosto envelhecido de uma diplomacia que aposta tudo nos crimes de guerra, na ingerência armada, na falta de respeito pelas soberanias nacionais. Os países da coligação que promove massacres na Líbia querem exportar uma democracia que não interessa aos países livres, porque ela é construída sob pilhas de cadáveres de civis inocentes.
O Prémio Nobel da Paz Barack Obama defende e promove a guerra, é o rosto da agressão e o número um da cruzada que pretende levar a todo o mundo o modelo que destroçou o sistema financeiro dos EUA, provocou milhões de crianças sem abrigo em todos os Estados americanos, atirou com famílias inteiras para a miséria absoluta, desde o interior rural às portas da Disneylândia, na Florida.
Quem não é capaz de garantir às crianças americanas um lar, não tem o direito de impor esse modelo a ninguém. Mesmo que se enfeite com a medalha e os fundos milionários
do Prémio Nobel da Paz.
Obama e a senhora Clynton deviam unir esforços para garantir uma casa às crianças dos EUA. Para lhes darem alimentação, cuidados saúde e ensino.
Quando garantirem esses direitos mínimos à camada mais vulnerável da sociedade americana, vão seguramente perceber que as cruzadas absurdas de imposição aos outros de um modelo que até agora só produziu dor e luto, não interessa a ninguém, nem ao Comité Nobel, ainda que esteja interessado na venda de explosivos e seus derivados.
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