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domingo, 3 de abril de 2011

Guilhermino Alberto

Guilhermino Alberto |

O regresso dos cowboys

Entre finais de Novembro e princípio de Dezembro do ano passado estive em Tripoli para cobrir a Cimeira União Africana/União Europeia.
Com muitos outros jornalistas angolanos, fiquei hospedado no hotel Carthago, próximo do complexo presidencial que agora foi bombardeado pelas forças aliadas. E uma coisa tenho a certeza: é muito dificil atacar o complexo presidencial de Kadhafi em Tripoli sem atingir civis inocentes que vivem à volta. É o mesmo que pedir a um elefante para andar sobre uma plantação de tomates sem os esmagar.
Não morro de amores por Kadhafi. E a minha experiência da cobertura da Cimeira União Africana/União Europeia, em Tripoli, foi suficientemente dramática para perceber que há falta de liberdade naquele país. Só o facto dos passaportes de todos os jornalistas terem sido retidos no aeroporto militar à chegada e devolvidos apenas no dia da partida, dez dias depois, dá para perceber o tipo de regime ali implantado.
Kadhafi, para mim, não é nenhum democrata, mas não posso concordar que sob a justificação de proteger civis se lancem bombas de destruição massiça sobre uma zona da cidade de Tripoli densamente habitada.
Este reiterar primitivo das cowboyadas com a absurda justificação de que é preciso salvar a humanidade dos maus, atenta contra os mais elementares direitos humanos. Não se protege um povo matando-o.
Ninguém atacou Marrocos, no ano passado, para proteger os civis saharauis refugiados num campo inóspito, quando eram selvaticamente bombardeados pela Força Aérea Real. Pelo contrário, o Plano de Acção União Europeia-Marrocos de 2011 estabelece o reforço dos laços de amizade e cooperação em vários domínios. Não há nenhuma cláusula exigindo o fim da bárbarie e a libertação dos activistas dos direitos humanos.
Ninguém bombardeou a Birmânia, onde um regime feroz atacou a ferro e fogo manifestantes civis, incluindo monges budistas, que exigiam apenas democracia.
Aqui chegados, temos de convir que voltamos aos velhos tempos dos cowboys, em que volta a vigorar a Lei do Colt, para ocupar terras e ficar com o ouro (negro) dos líbios ao preço de nada.

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