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domingo, 10 de abril de 2011

Imprensa acompanha mudanças revolucionárias

Omar el Sadr |

Imprensa acompanha mudanças revolucionárias

08 de Abril, 2011
Tal como sucede com os políticos e economistas, também os jornalistas se têm que adapar às mudanças sociais e profissionais impostas pela revolução que parece ter vindo para mudar profundamente todo o mundo árabe.
A única diferença entre as alterações que se estão a verificar nos diferentes sectores sócio-profisisonais do mundo árabe é que, no que respeita aos joranalistas, estas estão a ser feitas a um ritmo verdadeiramente alucinante e ao sabor de quem comanda as operações.
Dominado pela toda poderosa cadeia de televisão do Qatar, Al Jazeera, o espectro mediático que acompanhou a evolução dos movimentos revolucionários dos diversos países árabes serviu de “alavanca” utilizada para arregimentar apoios, seja para a contestação ou para a apresentação de argumentos que pudessem explicar algumas das decisões que agora estavam a provocar a fúria popular.
As diferentes estações árabes de televisão, com execpção da já referida Al Jazeera, foram pura e simplesmente ignoradas pelas cadeias internacionais chegando mesmo a assistir-se a algumas tentativas de as conotarem com os poderes contestados. No Egipto, desde 25 de Janeiro, já foram substituídos por três vezes as direcções de redacção da televisão e da agência de notícias MENA. Primeiro numa “caça às bruxas”, depois por tentativas pontuais de vinganças pessoais e, agora, pelo desejo de adequar os critérios informativos aos tempos que correm e que se baseiam numa flexibilidade que se pode confundir com falta de autoridade ou mesmo de convicção.
Durante décadas a imprensa árabe viveu sem qualquer problema de concorrência. Eram poucos os lares que tinham acesso às grandes cadeias internacionais de televisão e só nos últimos dez anos é que as populações começaram a familiarizar-se com a utilização da internet. A revolução tecnológica verificada no mundo árabe, e que despertou a mentalidade da juventude para a reivindicação de melhorias na sua situação de vida, foi acompanhada por uma maior exigência no acesso à informação caseira provocando algumas interrogações entre a realidade dos factos que diariamente viviam e aquilo que lhes era apresentado como uma realidade que começavam agora a saber ser mentira.
Com a consolidação das alterações políticas verificadas na Tunísia e no Egipto não fazia qualquer tipo de sentido que a imprensa se mantivesse à margem das mudanças que se registam a uma velocidade alucinante.
De um momento para o outro, os grandes títulos dos jornais passaram a reflectir uma realidade exposta pelas imagens televisivas e que espelhavam os diferentes momentos de uma revolução que ainda está por terminar mas que já deixa perceber que nada voltará a ser como dantes. Sobretudo na imprensa. Nos países do Golfo, por exemplo, os jornais desempenharam um papel fundamental ao contrariarem a ideia que era transmitida pela “amiga” imprensa ocidental e pelas próprias imagens televisivas.
O diário Al Watan, o mais respeitado no país e tido como mantendo uma relação de proximidade com o rei Abdullah fruto do sem empenhamento na implementação de uma série de reformas sociais, foi o primeiro a denunciar a existência de um pedido dos Estados Unidos para o envio de militares para o vizinho Bahrein com o objectivo de travar, “por todos os meios possíveis”, a manifestação popular que ameaçava a segurança do reino e a coesão da região. Esse jornal, que ainda é referenciado por ser a tribuna que o rei usa para obter o apoio do povo para algumas das suas decisões que não têm unanimidade no reino, não se cansou de criticar os Estados Unidos pelo seu posicionamento sinuoso em relação ao que se passa no mundo árabe, estando hoje a sentir na pele o ostracismo das grandes cadeias internacionais, como a CNN e a BBC, que já o colocaram ao lado das “ditaduras reais”. Fruto dos diferentes poderes, económico ou político, os jornalistas são os primeiros a serem descartados sempre que se verificam alterações substanciais no que respeita a correlação de forças no poder. Não é, pois, de estranhar que desde o início das revoluções árabes os jornalistas tenham estado no fio da navalha através de um rigoroso escrutínio ao seu desempenho como se fossem uns meros intervenientes políticos sem qualquer tipo de comprometimento profissional.
Invariavelmente, os ministros das Informação – ou Comunicação Social – são os primeiros a serem sacrificados sempre que surge uma mudança brusca de regime. Foi assim na Tunísia, no Egipto e está a ser, também, na Líbia.
O poder da informação, ainda que na maior parte das vezes apenas reconhecido em situação extrema de desespero de causa, é interpretado pelos diversos poderes consoante as suas necessidades e etiquetado como descartável sempre que considerado inconveniente. Poucos são os regimes que resistem à tentação de manipular a informação internamente produzida, mas muitos são os que lhes viram as costas quando confrontados com situações que querem uma tomada de decisões que obrigam a uma maior reflexão.
No mundo árabe a imprensa está a tentar adaptar-se a estes ventos de mudança e a sentir alguma dificuldade em manter viva a sua indentidade cultural e editorial. É que, por exemplo, a um jornal do Egipto é exigida uma interpretação em relação ao que se passa na Líbia completamente diferente daquela que, mesmol idêntica na sua génese, tem que ter sobre o que ocorre no Iémen.
Mesmo sem querer a imprensa árabe, no seu todo, fruto de todas as sinuosidades resultantes de realidades diferentes con tinua a ser refém de decisões políticas aplicadas consoante interesses particulares que nada têm a ver com o livre direito do povo à informação nem se compadece com apreciações relativas a desempenhos profissionais.
Para o ocidente, tal como na política, também na informação existem os jornalistas “bons” e os “maus”. É tudo uma questão de como se consegue fazer transmitir a mesma realidade através de diferentes prismas.

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