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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Crise no Egipto põe Israel em estado de choque

Omar el Sadr|

Crise no Egipto põe Israel em estado de choque

Um profundo sentimento de inquietação, misturado com perplexidade, está instalado no seio do Governo israelita que entrou em verdadeiro estado de choque perante o que se está a passar no mundo árabe e, sobretudo, no seu poderoso vizinho: o Egipto.
Apesar do conforto que lhe é dado pela garantia de estar do lado daqueles que o Ocidente considera serem os "bons", o facto é que os israelitas são os que mais podem ser afectados por eventuais profundas alterações na anterior correlação de forças, que lhes permitia manter uma posição de superioridade face às pressões árabes relacionadas com o processo de paz na região.
De um momento para o outro, Israel viu a Autoridade Palestiniana e o Hamas chegarem a um entendimento para a realização de eleições e para uma importante visita que Mahmoud Abbas deverá efectuar na próxima semana à Faixa de Gaza. Uma visita que poderá oficializar a reunificação – e o reforço – entre todos os palestinianos e que poderá marcar um virar de página na tal correlação de forças que tanto preocupa as autoridades israelitas. Mas, como Israel está na lista dos "bons", pode utilizar esse estatuto para garantir alguma tranquilidade. Para isso, o seu ministro da Defesa, Ehud Barak, já fez saber junto dos seus aliados dos Estados Unidos que necessita de uma ajuda militar suplementar da ordem dos 20 milhões de dólares. Essa verba, que os Estados Unidos já disseram não ter problemas em disponibilizar, será exclusivamente utilizada para fazer face às "consequências que possam advir das revoltas árabes".
Uma dessas "consequências" poderá ser a revisão do acordo que Israel tinha assinado com o Egipto para o fornecimento, durante 25 anos, de gás, sem qualquer aumento de preço. O novo Governo do Cairo, pressionado pela revolta popular, já anunciou que não irá respeitar esse acordo e que eventuais futuros fornecimentos do gás de que Israel tanto necessita para o desenvolvimento da sua economia terão um substancial aumento de preço. Durante largos anos, por influência directa dos Estados Unidos, Israel tinha no Egipto, Jordânia e Arábia Saudita importantes aliados para o prosseguimento da sua política de hostilização face aos palestinianos, o que levou ao arrastamento de um processo de paz que parecia não ter fim.
Se a sua relação com a Jordânia e a Arábia Saudita parece não ter sofrido grandes convulsões – até porque a revolta popular nestes dois países não teve grandes consequências práticas na estrutura do poder – já em relação ao Egipto as coisas apresentam-se de forma completamente diferente.
Grande potência do mundo árabe, o Egipto tem, por si só, a capacidade de influenciar a situação interna nos restantes países da região. Essa capacidade aumenta, agora, na medida em que ninguém sabe muito bem como será o futuro de um processo que continua recheado de "sombras".
Apesar dos militares no poder terem dito que respeitarão todos os acordos assinados pelo regime de Hosni Mubarak, entre os quais se inclui o compromisso de paz que foi celebrado com o Estado Hebreu em 1979, a verdade é que a nível interno começam a surgir vozes – como a dos Irmãos Muçulmanos e de alguns jovens que habitualmente se reúnem na Praça Tahrir – que pretendem que o Egipto assuma a sua verdadeira identidade árabe e defenda os interesses dos seus parceiros regionais e que abandone a sua subordinação perante os interesses do Ocidente. O próprio Irão, que para o Ocidente lidera o lado dos "maus", tem desenvolvido esforços discretos para apoiar aqueles que no Egipto defendem que é tempo do país deixar de "namorar com o inimigo" e colocar-se, definitivamente, ao lado dos seus irmãos árabes. Nesta separação que o Ocidente faz entre os "bons" e os "maus" começam a desenhar-se, naturalmente, algumas alianças. No lote dos primeiros está o Bahrein, a Arábia Saudita, a Jordânia e o Iémen, onde os acordos que mantém com os Estados Unidos para o combate à Al Qaeda mais parecem um salvo-conduto para perpetuar o presidente Saleh no poder. Do lado dos maus está a Líbia (obviamente), a Argélia e o Irão, principalmente.
O Egipto, uns dias está entre os "bons" (quando os militares anunciam decisões que garantem a defesa dos "valores democráticos") noutros pertence ao bloco dos "maus" (quando anuncia a revisão dos acordos económicos com Israel e permite que os Irmãos Muçulmanos se manifestem publicamente). Esta dificuldade que o Ocidente tem em entender a actual realidade egípcia, onde a população respeita os militares na justa medida em que estes respeitem as suas liberdades, está a colocar Israel à beira de um ataque de nervos, já que não se cansa de reclamar a necessidade de reiteradas provas do respeito pelos acordos anteriormente alcançados. A desorientação de Israel e o receio que tem de que o Egipto passe a favorecer o entendimento inter palestiniano que está a ser desenhado entre o Hamas e a Fatha, poderá estar na origem dos recentes ataques que a sua aviação efectuou contra a Faixa de Gaza e que marcam o reinício dos confrontos militares naquela região.
Esse entendimento, a surgir com o apadrinhamento do Egipto, poderá ser um marco determinante na alteração da actual correlação de forças entre os "bons" e os "maus" e marcar o recomeço de um conflito que incendiará ainda mais o Médio Oriente, levando Ocidente a cair na tentação de efectuar mais "acções cirúrgicas" semelhantes às que estão a decorrer na Líbia.
É que a diferença entre estar na lista dos "bons" e na dos "maus" representa, "só", ter ou não o direito a poder gerir os assuntos internos dos seus próprios países.

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