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sábado, 30 de abril de 2011

SITUAÇÃO DA COSTA DO MARFIM, QUE LIÇÕES PARA DEMOCRACIA EM ÁFRICA?


TONY PARRACHITA*
As imagens que correram na internet em torno da detenção de Laurent Gbagbo são de todo repugnantes. Não obstante o ex- presidente ivoirense ter negado os resultados das últimas eleições onde Outtara saiu vencedor, alegando ter havido irregularidades no norte, um reduto dominado maioritariamente, pelo seu adversário, a exibição mundial de imagens de Gbagbo semi-nu em nada dignifica o nosso continente.
As forças aliadas de Alassane Outtara, invadiram a residência de Gbagbo, prendendo a este, esposa, e mais 150 pessoas. Nenhum tudo foi um mar de rosas como certa imprensa ocidental tenta passar impingindo as mentes africanas e ao mundo que não houve violação de direitos humanos.
 Tais imagens fazem recuar as nossas memórias para um passado menos distantes com situações que ocorreram no continente africano onde os opositores políticos no Zaire como Patrice Lumumba, cujo corpo até desconhece-se o destino, na Libéria com Samuel Do, cujo corpo foi arrastado e triturado em pleno estádio ou mesmo em uma situação doméstica com a morte de Jonas Savimbi, que independentemente dos males que terá causado aos milhares de angolanos (particularmente ao autor destas linhas) merecia um tratamento mais digno, mas não é esta a filosofia da guerra, cujo objectivo cinge-se em humilhar o adversário.
A humilhante detenção de Laurent Gbagbo, ditou a morte política deste antigo professor de História, independentemente de muita gente querer alardear que ele queria agarrar-se ao poder é preciso estar atento a determinados factores de que a situação da Costa do Marfim não se resume apenas a este impasse, existem outros motivos como os conflitos étnicos entre muçulmanos e cristãos, a genuidade da nacionalidade, cuja filosofia da marfinensidade ainda é reinante, cingindo-se na preeminência dos nativos em relação aos outros cidadãos, tornando-se num dos principais factores da instabilidade actual das Costa do Marfim.
Outtara depois de ter tomado o poder apelou que iria trabalhar para a reconciliação dos ivoirenses nos próximos 2 anos, querendo que antes o seu opositor político reconheça que ele foi vencedor das eleições de Novembro de 2010, para depois leva-lo a barra da justiça. Porém, a reconciliação será algo difícil de vir acontecer atendendo a falta de dignidade com a exposição do corpo de um presidente não obstante dos erros cometidos, coisa que os apoiantes do ex-presidente irão jamais perdoar.
Com isso resume-se que Outtara não se sente seguro e ao exigir este reconhecimento de Gbagbo, estará ele próprio a reconhecer que o seu opositor continua a ser o presidente constitucional da Costa do Marfim, mergulhando o país para um impasse.
Esta situação da Costa do Marfim juntando-se ao caso da Líbia demonstra que as grandes potências cultivam simultaneamente a prática das boas leis e das boas armas quando os seus interesses são ou não afectados.
As potências como a França, EUA, Inglaterra tem muitos interesses baseados nos países africanos e quando estes interesses são postos em risco em função da aparição de “iluminados” africanos não suportarem mais a colonização moderna, são tidos como “persona non grata”, isto é o que sucedeu com Gbagbo na Costa do Marfim e Kadhafi na Líbia.
A invasão a residência do até então presidente está em volta de muito mistério, pois a força com que os aliados de Outtara chegaram ao palácio presidencial em menos de 15 dias com o apoio das forças francesas e da ONUCI (demonstrando um paralelismo sem igual da ONU) era difícil de se aceitar, pois que nenhum exército do mundo pode ser formado neste espaço de tempo, e no caso da Costa do Marfim tal só podia acontecer se os aliados do agora presidente ivoirense contassem com apoio dos da CEDEAO. Com relação a isto já se ouviu pronunciamentos dos Presidentes Russos e da China.
Importa realçar em função a certa notícia difundida pela imprensa ocidental principalmente a francesa, Angola sempre respeitou o posicionamento da União Africana, razão pela qual apresentou ao então presidente da Costa do Marfim a proposta de abandono do poder, tendo este negado. Laurent Gbagbo foi vítima dos seus próprios erros nos últimos 4 ano.
Após a tomada do poder Alassana Outtara não consegue estar unidos com os companheiros de luta, Coulibaly elemento que liderou uma facção que apoiou as forças do actual Presidente marfinense foi morto. Está decretado a caça as bruxas, quer se aceite ou não… Haver vamos até onde vão nos levar os próximos capítulos da novela Costa do Marfim.
* Estudante de Relações Internacionais.


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